Fundação de Araçatuba (2º. Fabriciano Juncal)

Fundadores e desbravadores de Araçatuba, aos quais
dedicamos, agradecidos, as homenagens póstumas
que Eles sobejamente merecem:

Vicente Franco Ribeiro
Carolino de Oliveira
Manoel da Silva Prates
Os Saran
Manoel Inácio
Ângelo Pavan
Dona Leonísia de Castro
Santo Gato
Cel. Eliziário de Lemos
Augusto Barbosa de Moraes
Os Bidóias
Antônio Xavier Couto
Francisco Brito Sobrinho
Dr. Francisco Vieira Leite
José Rister
Ludgero Cardoso
Mário de Vasconcelos
Cândido Prado de Souza
André Risolia
Hermilo de Magalhães Pinto
Manoel Pereira Mil Homens
Anse Molise
Benjamim Bruno

Benedito Pacheco
João Máximo de Carvalho
Os irmãos Viol
Os Geraldi
Teodomiro Carrilho
Antônio Pavam
Paulo Biagi
José Bertoli
Sarjob Mendes
Os irmãos Bodo
Abrão Cury
Manoel Pedroso e Dona Joaquina
Pedro Storti
Augusto Keller
Aprígio Cardoso
Sebastião Vasconcelos
Atílio Pinholi
Joaquim Mendes
José Augusto
Alípio Castilho
Álvaro de Siqueira
Pedro Bim
Paulo Bim

Fabriciano Juncal

É com eles que começa, efetivamente, a nossa história: são eles os personagens deste pequeno poema épico, que vai aos poucos se transformando numa epopeia.

Amanhecia em Bauru o dia 28 de abril de 1914, quando embarcamos, em companhia de Carolino de Oliveira e Guido Galesso, com destino a Araçatuba, povoação menina do oeste paulista. Istalamo-nos no Hotel Noroeste, cujos arrendatários eram Benedito Pacheco e seu filho Gumercindo. O que nos trazia a estas longínquas paragens?
Vínhamos para inaugurar e colocar em funcionamento o primeiro armazém desta região, que se destinava a fornecer mercadorias aos trabalhadores da E.F. N.O.B., e cuja proprietária era a Firma J. Mendes & Cia, que também vendia a particulares.
Mas não havia ainda o que inaugurar. O prédio que deveria ser o armazém era apenas um arcabouço de tábuas, não acabado. Enquanto esperávamos que ficasse pronto, resolvemos preencher nossas horas com anotações sobre a cidade e seus habitantes.
A estação inaugurada em 1913, e construída de tábuas, tinha como agente o Sr. Guilherme Marques Prazeres, e como telegrafistas Pedro de Oliveira e João Sigolo. Exercia a função de portador o Sr. Sebastião Vasconcelos. João Ferreira era o chefe do depósito; Leobino Cardoso, Henrique Gusmão e Apolinário eram os funcionários. Bombeiro era um tal Marques e maquinistas, Davi Esgalha e Antônio Silveira. Adelino Pereira era o mestre-de-linha. De dormentes eram feitas as residências do pessoal da estrada.
Projetado pelo engenheiro alemão Gustavo Stamp, de propriedade do Dr. Elísio de Castro Fonseca, e cortado por Antenor Vasconcelos, em 1912, o patrimônio foi derrubado, administrado e vendido por Vicente Ribeiro Franco. Era pequeno e tinha poucos moradores. Da estação até a rua XV de novembro havia o triângulo de reversão, em cujo lado esquerdo ficava o Hotel Noroeste. Em frente do triângulo, outro hotel, de tábuas, tinha como proprietários os irmãos Pedro e Paulo Bim. A pinguinha corria por conta do botequim existente ao lado, onde Manoel Inácio e seu empregado Mário Vasconcelos atendiam sua modesta freguesia. Pintar um retrato da Araçatuba de então nada mais é que delinear os vultos de modestíssimas construções, em sua maioria de madeira ou tijolo sem reboque. Havia, por exemplo, na esquina da rua XV com a Prudente de Morais, duas casas de tijolo sem rebocar, uma pertencente aos irmãos Pires, espanhóis, e na frente a outra, construída por Santo e Paulino Gato, onde ambos residiam. Onde hoje fica o Dr. Castanheira, descendo a Joaquim Nabuco, havia uma casa construída por Adelino Pereira. De tábuas eram o hotel dos irmãos Aprígio e Ludgero Cardoso, e uma casa onde residiam os irmãos Bodo. A cidade se resumia nas ruas que circundavam a estação, que era, evidentemente, o centro da cidade. Entre os moradores desse pequeno núcleo de onde se irradiou mais tarde a grandeza de Araçatuba, contavam-se, na época: a família do Coronel Antônio Gomes do Amaral, cuja fazenda estava se formando; família Pedro Storti; Teodomiro Carrilho e seu boteco de tábuas. É preciso ressaltar aqui o nome de Abrão Cury, primeiro comerciante, com seu salãozinho de bugigangas, desses onde você acha desde uma agulha até remédio para dor-de-dentes. A beira da linha, o Hotel da viúva Angelina, feito de tábuas e coberto de zinco. Na Olavo Bilac, mais um hotel, cujos proprietários eram João Vasconcelos e Joaquim de Lima. Como se pode perceber, era bem grande, em relação ao tamanho do patrimônio, o número de hotéis, para atender à população flutuante que demandava a Araçatuba. Hotéis e botecos constituíam o aspecto predominante da provincianíssima paisagem araçatubense, verdadeiro reduto do então faroeste paulista. Não faltavam, como é natural, os paus de amarrar cavalo. Na Olavo Bílac residia a família Saran, numa casinha de barro. Havia ainda a casa de propriedade de Sinhana Carroça.
Como satélites do pequenino planeta, existiam nas redondezas os sítios e derrubadas [muitas delas realizadas pelos próprios proprietários] das famílias Geraldi, Pavan, Saran, Viol, Bertoli, Biagi, Bidóia, Gato, Storti e outras.
Povoado pequeno e acanhado, Araçatuba nada oferecia que se pudesse chamar de atraente. A vida de uma cidade que nasce é a mesma em qualquer tempo e em qualquer lugar. Pacata, parada, rotineira e sem graça; tinha, de vez em quando, acontecimentos extraordinários. Mas eram raros esses espetáculos públicos, e por isso mesmo merecem ser registrados.
A maior preocupação nossa, nesse tempo, eram os massacres com que os caingangues costumavam alegrar suas horas de lazer. No local onde hoje está situada a cidade de Coroados, na época denominada "Reta Grande", houve uma "bela" chacina, com a morte de quatro camaradas e o posterior incêndio da estação. Pouco depois, novo massacre, desta vez com seis empregados do empreiteiro Joaquim Barbosa, que não se conformando com o fato, vai em perseguição dos índios até sua aldeia, na cabeceira de um ribeirão onde hoje é Dracena. Ao chegar, porém, deparou com um quadro sinistro: os índios realizavam uma tremenda festa, dançando e cantando ao redor de uma fogueira, cujo clarão refletia macabramente quatro cabeças espetadas em guarantâs. O espetáculo não o intimida, e ele manda que seus homens "abram fogo". Muitos índios foram mortos e Joaquim Barbosa preso e remetido ao Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, outra chacina no Córrego Água Branca provoca a morte do agrimensor Cristiano Olsen. Durante uma derrubada, novo ataque indígena e a morte de seis camaradas, exatamente no local onde hoje está instalado o Instituto Noroestino de Trabalho, Educação e Cultura, a maior conquista da Araçatuba de hoje, presente inigualável que uma geração privilegiada recebe, como dádiva e incentivo. Onde imperou a barbárie, o primitivismo, a luta sangrenta e a ambição desenfreada, ergue se hoje o monumento à dignidade, ao labor, à cultura e à educação, únicos fatores capazes de elevar os indivíduos à condição de pessoas, de seres humanos, de "gente", enfim.
Mas não eram só os índios os "artistas" da região, Éramos sacudidos, vez por outra, por homicídios dignos de figurar nas melhores crônicas policiais de hoje. 
Foi assim que causou sensação o assassinato de José Antônio, vulgo "Galo Cru", pelo agrimensor Ulisses de Lima. Voltavam de uma exploração ao Rio Feio, cujo objetivo era fazer o levantamento do salto e da reta Carlos Botelho, os agrimensores Antenor Vasconcelos e Ulisses de Lima. Vinha acompanhados de seus camaradas, José Antônio, inspetor de quarteirão [nomeado pelo então Alferes Galinha] e proprietário de um hotel de quinta categoria à margem da linha, onde o jogo carteado corria solto. Só que era proibido ganhar, e ai do infeliz que conseguisse fazê-lo. Ora se deu que um dos camaradas da tal expedição resolveu jogar e teve o azar de sair ganhando. Como sabia da "lei" vigente, saiu correndo porta a fora. Foí então que José Antônio, numa cena típica do "bang-bang" internacional, de carabina em punho atira pelas costas no infeliz ganhador, matando-o no local. Os dois agrimensores supracitados vão a Bauru reclamar do "xerife" de lá providências que pusessem cobro nos desmandos do inspetor de quarteirão. Jantava Antenor num hotel daquela cidade, quando aparece o dito inspetor, armado de um revolver, que descarrega a esmo, errando todos os tiros. 
Vai Ulisses então a pé até a estação de Val-de-Palmas, com o propósito de encontrar seu desafeto dentro do trem no qual ele estaria voltando, no dia seguinte. Encontra-o e manda que saque o revólver, para morrer como homem, de arma em punho. Antes, porém, que o outro pudesse reagir, desfere-lhe toda a carga de seu "38", promovendo-o, de "Galo Cru" a "Galo Queimado". Foi o agrimensor levado a júri, em Bauru, é absolvido por unanimidade. A morte do "Galo" era o prato do dia na redondeza, quando aqui chegamos.
Mas voltemos aos fatos comuns.
Terminadas as obras do armazém e prontas as nossas residências, minha, de Carolino de Oliveira e Guido Galesso, chegaram também as famílias de ambos. 
Instalei-me em meu quarto de solteiro, onde tive por companhia Manso de Paiva Coimbra, auxiliar de trem, procedente de Mogi-Mirím, que pouco depois deixava a estrada de ferro e seguia para São Paulo. Não tardei a ter notícias do meu ex-companheiro, através dos jornais, que noticiavam haver ele assassinado o famoso Alferes Galinha, mencionado linhas atrás.
E novas famílias iam chegando, engrossando a leva de novos araçatubenses. Ainda em 1914, Benjamim Bruno e sua esposa Maria Pacheco, com seus filhos Lídia, Alcebíades, Armando e Benjamim, este último excelente amigo e companheiro, já falecido.



Texto extraído do livro:
"A VEDADEIRA HISTÓRIA DE ARAÇATUBA"
Fabriciano Juncal (paginas: 13a17)



ASSUNTO RELACIONADO:
FUNDAÇÃO DE ARAÇATUBA - 2º. CÉLIO PINHEIRO/ODETTE COSTA

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