Você realmente acredita que ARAÇATUBA foi a terra dos Araças?
Leia essa matéria publicada no jornal “A COMARCA” em 2 de Dezembro de 1964, e tire suas conclusões.
POR QUE ARAÇATUBA?
No
Brasão de armas da cidade de Araçatuba, fulgura em seu campo de chefe, um
araçá, em prata, e que, segundo a descrição ali se encontra, para lembrar o
fruto inspirador do nome dado a esta paragens.
O
forasteiro põe-se, então, a imaginar que os primitivos moradores destas bandas
viviam a deliciar-se em estalar entre os dentes os tão apetitosos frutinhos e
que entre os cerrados das mata, mescladas aos formidandos troncos seculares, lá
estavam os araçazeiros, como se aqui fosse a maior reserva natural do arbusto,
tão perseguido pela infância destes Brasís.
Araçatuba
é uma cidade menina e se lembrar-mos que o araçá é fruto que se reproduz espontaneamente,
bastando, apenas, que a semente caia ao chão, estranha-se que, em tão pouco
tempo, tenham desaparecido totalmente da região todos os pés de Araçá que, em
virtude de sua abundancia, chegaram a legar o nome de uma cidade.
Deveríamos,
se assim fosse. Encontrar nos dias hodiernos, ao menos em sítios e chácaras ao
redor da cidade, inúmeros araçazeiros, mas por incrível que possa parecer, 80%
da população não conhece, a não ser por gravuras, nem o arbusto e nem o fruto.
Instado
a tecer considerações sobre o nome Araçatuba, um membro da Sociedade de Estudos
Filológicos de São Paulo, publicou, em certo jornal da cidade, em 2 dezembro de
1958, um artigo que terminava dessa maneira; “Que significa Araçatuba? Deriva
de Araça-tyba” o que quer dizer “Onde há muitos Araçás”. E o que é “Araçás”?
Pode ser fruto do araçazeiro ou araçaeiro e também pode ser “o boi de pelo
amarelo pintado de preto”.
E
terminava as suas considerações com essa palavras: “Os amigos Araçatubenses que
digam se a 50 anos, aqui havia muito araçá ou muito boi amarelo pintado de
preto” (SIC) E todo mundo ficou na mesma!...
Foi
exatamente assim que nasceu a lenda dos araçás nessa terra. Alguém descobriu um
dicionário Abanêeng e lá encontrou o têrmo Araçatuba com o desmembramento da
palavra: Araçá - fruto; Tuba – muito. E... pronto. Araçatuba – abundancia de
araçás.
Entretanto
podemos afirmar seguramente que no caso, Araçatuba não surgiu da abundancia de
araçás, ao menos por estas bandas em que foi colocado uma estação com esse
nome.
Vejamos porque meios os engenheiros da
Estrada de Ferro batizaram a estação e, para isso, nos valemos da descrição de
Edgar Lage de Andrade: “Prosseguia a arrancada de progresso, com a colocação
dos trilhos da estrada. Há dez quilómetros de Bauru desmarcava-se o primeiro
ponto de parada, ao lado do picadão, cuja denominação os engenheiros buscam no
próprio motivo da paisagem verdejante de palmas: Val de Palmas.
As
estações vindouras começavam a ter existência e a receber os nomes dos
transcurso das picadas e escavações.
Já
ambientados com as terras, os incursores em suas barracas de campanha, recebem
as visitas dos sertanejos, moradores do sertão.
Profundos
conhecedores das terras, vêm eles oferecer seus préstimos e suas experiencias
adquiridas durante anos no sertão agreste. De mais, aliados que estavam a
certos núcleos de índios semi-catequizados, podiam eles orientar os engenheiros
em relação a acidentada topografia da região.
Velhos
conhecedores das tradições e lendas foram eles os responsáveis em grande parte,
pelo batismo de novas estações que iam surgindo e que tomavam nomes indígenas
de significado histórico, peculiar a cada região”.
O
cronista afirma que os sertanejos orientavam no batismo de nomes indígenas, de
significação histórica peculiar a cada região. Qual seria, então, a
peculiaridade dessa região? Grande quantidade de Araçás? Não senhores. Deu-se o
nome de Araçatuba, simplesmente porque num determinado ponto, não distante do
local onde se ergueu a nova estação, havia uma corredeira com esse nome,
conforme podemos constatar num mapa elaborado pelo instituto geográfico e
geológico do estado de São Paulo, datado de 1950. No referido mapa encontramos,
no Rio Tietê junto a corredeira do chapéu e entre os córregos Azul, dos espanhóis
e das cruzes, pouco abaixo da ilha de Araranguá, a corredeira de Araçatuba.
O
paciente leitor, a esta revelação, estará pensando com seus botões, que nada
existe de mais lógico. Se o mapa traz a data de 1950, claro é que a corredeira
tomou esse nome, em virtude da cidade do mesmo nome. Mas não.
Num
levantamento do Rio Tietê, levado a efeito no ano de 1905, levantamento
oficial, determinado pelo então Presidente Jorge Tibiriça, já encontramos o
córrego de Araçatuba no mesmo local. Ainda mais, no mesmo levantamento, além do
córrego existe, também uma ilha com cerca de 8.000 metros quadrados, entre as
ilhas de Araranguá e meia légua, cujo nome é esse: Araçatuba.
Vamos
além. Numa edição do Instituto Histórico e geográfico de São Paulo, Volume VI,
página 206, num mapa de Teodoro Sampaio, encontramos o córrego Araçatuba, entre
os córregos do funil, Avanhandava e Itapura. O mapa em questão data,
simplesmente, de 1900.
Porem,
avancemos um pouco mais no tempo e procuraremos um outro mapa, também de
Teodoro Sampaio, no mesmo livro do instituto, a página 209. É um mapa de 1800,
e nele depararemos com o mesmo córrego de Araçatuba.
Tudo
isso quer dizer que “Araçatuba” não foi escolhido pela abundancia de araçás que
por ventura aqui houvesse, pois um século antes já era conhecido um córrego com
esse nome. Talvez por aquelas banda de Araranguá existissem araçás, porem,
nessa altura, surge uma outra questão.
Antes de 1800 teria sido esse mesmo o nome? É
possível que a primitiva denominação fosse Araratuba e não Araçatuba. Por que?
Vejamos
inicialmente o significado da palavra Araratuba: “Arara” é o nome do grande
Psitácus conhecido e “Tuba” significa grande quantidade, segundo o dicionário
do Dr. Joaquim Branco inserto na revista do Arquivo Municipal de São Paulo,
onde no volume XIV, à página 51 encontramos: Araratuba: cachoeira do rio Tiete,
localizada acima de Aracangua Mirim, em São Paulo.
Ora,
esse local é o mesmo que aparece nos mapas de 1905, 1900, e 1800 e ainda no
mapa de 1950, onde se veem: o Corrego, a corredeira e a Ilha Araçatuba.
Porque
no dicionário do Dr. Joaquim Branco, ediçãoo de 1935, estaria o local grafado
como Araçatuba?
Alguma
razão existe para isso. Talvez a tradição.
Isso
levanta a questão segundo a qual Araçatuba poderia ter sido, em tempos idos,
Araratuba.
Perguntamos
agora: Quem teria dado esse nome? Os Indios? Não Senhores, não foram os indios,
Foram os bandeirantes. Como assim?
Nos
primeiros tempos das grandes aventuras sertanistas, a língua oficial do brasil
era o tupi, ao lado do portuguesa. De cada três elementos de uma família, dois
pelo menos, falavam Tupi.
Os
missionários não s falavam, como, também, escreviam a língua da terra e até
mesmo as orações eram ditas em Tupi, como, por exemplo, a titulo de
curiosidade, transcrevemos trecho das páginas 494 e 495 do volume VI da Revista
do Instituto Histórico e Geografico de São Paulo: “Ao toque da ave maria, o
cristão da america erguia-se persignando: Santa curuça rangaua recê, que quer
dizer: pelo sinal da Santa Cruz e repetia na sua língua a oração da tarde”.
O
Padre Vieira, em 1649, escrevia: - “É certo que as famílias dos portugueses em
São Paulo estão ligadas umas com as outras, que as mulheres e os filhos se criam mística e
domesticamente e a língua que nas ditas famílias se fala é a dos indios e a portuguesa
a vão os meninos aprender à escola”.
Dizíamos que os bandeirantes é que haviam batizado a região com o nome Araçatuba ou
Araratuba. Realmente. Em suas incursões pelas matas iam os bandeirantes dando
nomes as regiões descobertas. Pelo menos em relação aos nomes, o nome Araçatuba
ou Araratuba, certeza que não foram os índios os responsáveis poe eles,
simplesmente porque ambos os termos são tupis e os Caingangues não conheciam o
Abanheêng e nem o Nheêngatú.
O
Nheêngatú era falado no Brasil setentrional, no Para e Amazonas, enquanto o
Abanheêng, no Brasil Meridional, no Paraguai, Uruguai e parte da Argentina
sendo também denominado Tupi-Guarani.
Quanto
a possível mudança de Araratuba para Araçatuba, é bom que se saiba que as denominações
geográficas tupis, explicáveis e normalíssimas por aqueles tempos em que o tupi
era a língua oficial na terra, são hoje, para as gerações hodiernas verdadeiros
enigmas, ainda mais complexos com as alterações sofridas e inevitáveis
corruptelas porque passaram.
Raro
é o termo que se conserva puro até nossos dias. Temos um milhão de exemplos,
dos quais destacamos alguns.
Ivitucatu
cujo significado é ventos fortes, transformou-se com o decorrer dos anos, em
Botucatu.
O
vocábulo “Paranã” foi ouvido pelos primeiros navegadores e soou como maranã, de
onde procede o atual e oportuguesado Maranhão.
Avanhandava
foi, no inicio, Abanhandava.
E
por ai a fora...
Como
mais um elemento de destaque para nossa teoria de que Araçatuba poderia ser
Araratuba, deixando, assim de ser região onde abundavam araçás para ser região
das araras, é interessante notar as transformação que passou o Rio Tietê, que,
outrora, chamou-se Anhemby, Rio do Diabo.
Num
mapa dos jesuítas datado de 1636 é o Rio Anyembi. De 1722 a 1723, passou a
chamar-se Anembi. Nos mapas da corte, no ano de 1749, deixou de ser Anemby para
ser o Rio Anhambu. No mapa de D. Luiz de Souza Botelho Mourão, volta a
modificar-se para Nyembi.
Cada
cartografo o assinalava de maneira diferente, provocando, com isso, versões
diversas.
Já
em 1727, era o Anhembi também conhecido por Tietê, porem num mapa do Capitao
João Cabral Camelo, conforme se vê no volume IV do instituto Historico e
geográfico de São Paulo, deixa ele de ser Tietê e passa a chamar-se Theaté,
para em 1788 no diário das viagens às capitanias do Para, Rio Negro e Mato
Grosso, voltar a ser Tietê.
Frei
Gaspar da Madre de Deus, o assinalava em suas memorias para as capitanias de
São Vicente, como Rio Tyeté.
Com
o decorrer dos anos perdeu o “Y” mas conservou o acento agudo, como podemos
observar no ja referido levantamento desse Rio, procedido no ano 1905. A duvida
continuava criando autenticas polemicas. Tietê ou Tieté? Finalmente venceu a
primeira forma.
Caso
idêntico aconteceu com o nome Ceara. José de Alencar afirma de deriva de
cemoará e o traduz como: Canto de Jandaia. Outros estão de acordo que Ceara
provem de Cemoara, mas traduzem diferentemente, isto é, Rio que nasce da serra.
Já
o Cônego Pennaforte faz derivar ceara do sânscrito: - “ceia-muito; ara-serra, e
traduz essa palavra híbrida por grupos de serras”.
O
Senhor António Bezerra de Menezes, opina pela identificação de Ceará com Saára,
aludindo ao grande deserto africano, com o qual, diz que os primeiros
exploradores teriam achado semelharen-se as terras do Ceará.
Todavia
o mais antigo documento que se conhece e que faz referencia a esse nome,
grafa-o como Ciará. Portanto pela tradição histórica, é a grafias Ciará a mais
autentica. E assim, por “cil ou ci” se designava uma casta de papagaio, aves
que deviam abundar no País, o qual por essa mesma razão, nos primeiros anos do
descobrimento, foi conhecido por “terras dos papagaios”.
Assim
sendo o nome “Cii-ará ou Ci-ará” não designa senão essa casta de papagaio.
Ciará e não Ceará, significa ou designa simplesmente uma casta de papagaio e
não “canto de Jandaia” como poeticamente se entendeu.
Diante
de todo o exposto, Araçatuba não é o único caso de alterações de grafia, com
versões diferente.
Portanto
tudo leva a crer que Araçatuba foi, em outros tempos, Araratuba região de
araras, nome também, de um córrego e uma corredeira, junto a ilha de aracangua
e que, mais tarde, a partir de 1800, passou a ser grafada como Araçatuba.
Assim
em 1908 a região onde se assentou a estação, recebendo esse nome, passou,
graças a uma tradução “ipsis-verbis” a ser terra dos araçás, sem que nunca
houvesse por aqui abundancia de tal fruto.
E
para terminar lembramos que, se os pioneiros são todos unânimes em afirmar que
por estas bandas nunca houve araçá a não ser alguns pés esparsos, não é justo
que continuemos a endeusar tal fruto, colocando-o em lugar de honra em nosso
brasão, como inspirador para o nome que figurou na rústica tabuleta da antiga
estação de madeira de 1908.
Justo seria que colocasse-mos em seu lugar um índio então que era o dono da terra, ou quem sabe rama de café, responsável por muitas das fortunas atuais, ou até mesmo uma locomotiva, pois muito embora não fosse a estrada a responsável pela fundação da cidade, foi, sem duvida alguma, a que abriu caminho para o povoamento de todo o sertão da Noroeste. Não discutimos que o termo Araçatuba não seja região de araçás mas essa região deveria então estar localizada junto à ilha de Araranguá e não em nossa terra. Se fossem os Caingangues os responsáveis pela denominação, quando a Estrada de Ferro aqui chegasse já deveria ter encontrado esse nome. Mas, como dissemos, o termo não pertence ao vocábulo Caingangue, logo, a região não tinha denominação. Foi batizada como Araçatuba pelos engenheiros da Estrada. E, demais, ainda é tempo de inquirir os vários moradores antigos, os que chegaram aqui por volta de 1909 até 1914. Para orientação daqueles que queiram investigar, daremos alguns nomes de pioneiros que ainda estão vivos e lúcidos. Ei-los: Antenor de Vasconcelos – João de Vasconcelos – Benjamim Bruno – Rosa Viol Trevisam – Angelo Biagi – Paulo Bim – Pedro Storti - Jose Candido Teixeira – Antonio Xavier Couto – Jose Xavier Couto e muitos outros que aqui aportaram depois de 1915.
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