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A 9 de julho de
1932, explodiu a Revolução Constitucionalista em São Paulo, porque a locomotiva
que já "puxava" o Brasil havia sido ocupada por forças ditatoriais,
sendo interventor o Coronel João Alberto Barros, auxiliado por um grupo de
tenentes.
Unidas, as
forças políticas exigiam um interventor civil e paulista, mas a ditadura a isso
se negou. Não foi propriamente o Dr. Getúlio Vargas que negou tal a São Paulo,
mas o Tenente Miguel Costa e outros companheiros, pois São Paulo era a
"mamata". Além do mais, São Paulo sempre esteve inferiorizado nesse
campo, pois Minas Gerais tinha Governador mineiro e outros Estados
interventores civis ou, então, militares mas filhos do mesmo Estado.
Os paulistas não
podiam aceitar essa situação. Ora, era o Estado líder em tudo!
A situação era
revoltante. A conspiração atingiu seu auge em 9 de julho, quase dois meses
depois da tragédia da praça República quando Martins, Miragaia, Dráusio e
Camargo foram fuzilados pelas forças policiais da Interventoria.
O maior
conspirador e elemento de ligação foi o jornalista Júlio Mesquita Filho (os
homens de imprensa sempre estão de um lado, certo ou errado, mas não fogem da
luta e se definem logo). O dr. Julinho conspirava nos Estados do Rio Grande do
Sul e Minas Gerais, que se comprometeram com São Paulo a aderir ao movimento
que visava ao retorno da legalidade constitucional e democrática à chefia da
Nação.
Infelizmente,
isso não ocorreu. Rio Grande do Sul e Minas Gerais negaram-se a colaborar com
São Paulo, e ficamos sós, tendo que agüentar o peso da ditadura durante 120
dias: uma verdadeira odisséia.
Em pleno centro
da capital paulista, formou-se o M.M.D.C. (homenagem aos estudantes fuzilados),
do qual faziam parte Antônio Carlos de Abreu Sodré, Paulo Nogueira Filho,
Abelardo César Vergueiro, Waldemar Ferreira (sogro do hoje deputado Herbert
Levy) e muitos outros honrados paulistas.
A princípio, já
com as escaramuças armadas em andamento, o chefe foi o Coronel Euclides
Figueiredo. Depois, o General Krieger, que logo organizou comboios de tropas
regulares sob o comando do Coronel Polimério de Rezende.
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A ordem inicial
era seguir para o Rio de Janeiro e tomar a Capital Federal.
Mas, no famoso
Túnel, tivemos a nossa marcha interrompida pelas forças federais que nos
barraram.
Começaram os combates.
Em 9 de julho,
recebíamos do saudoso amigo e valente companheiro Carlos de Abreu Sodré a ordem
de organizarmos o M.M.D.C. em Araçatuba e o fizemos convidando para integrarem
o grandioso e patriótico movimento os Srs. Mário Camargo, dr. Dario Ferreira
Guarita e o prefeito João Arruda Brasil, pai do hoje vereador Floriano.
Todos aceitaram
e teve início o trabalho de arregimentarão de voluntários e reservistas.
Instalamos o
Quartel General na Praça Rui Barbosa, no velho prédio da Antiga Câmara
Municipal. Mais tarde, organizamos salão de costura para confeccionar as fardas
dos soldados, quando as senhoras araçatubenses tiveram um destaque maravilhoso,
pois trabalharam com bastante prazer e entusiasmo.
Araçatuba foi,
sem dúvida, o centro regional do levante: aqui se congregaram as forças
revolucionárias da Noroeste, aqui organizamos os concursos para oficiais,
comissões para requisitar armamentos e tudo o mais que fosse necessário para o
êxito da Revolução. Enumeramos alguns preciosos colaboradores: Manoel da Silva
Prates e João Vasconcelos. Este desempenhou com eficácia as missões que lhe
foram confiadas em Valparaiso, onde se construía naquela época a variante da
Noroeste do Brasil.
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Dois batalhões
de homens dispostos saíram de Araçatuba para a frente de batalha.
O primeiro, sob
o comando do Dr. Dario Ferreira Guarita, dirigiu-se para São Paulo e tomou o
nome de "4 de Julho", aquartelando-se no Instituto do Café, ficando
aos cuidados do Major Saitcher, da gloriosa Força Pública de São Paulo. Seguiu
depois para a frente de luta. Deste batalhão faziam parte, entre outros,
Aureliano Valadão Furquim, Paulo Leite Ribeiro, João Vasconce-los, num total de
aproximadamente 800 soldados, muitos da finaflor da sociedade araçatubense,
outros da lavoura, outros comerciários, industriários, marceneiros, tropeiros,
boiadeiros, estudantes, contadores etc.
O outro
batalhão, do qual fazíamos parte, era formado por gente da Noroeste, de
Penápolis, Lins, Birigüi, Bauru etc, saindo de Araçatuba sob o comando do Dr.
Antônio Cajado de Lemos. Nosso destino era a capital, mas em Bauru recebemos
ordem de regressar para Campo Grande. Voltamos e ficamos acampados e
incorporados ao 18º. Batalhão de Caçadores em Mato Grosso, Estado que não
aderira totalmente como tinha dito o General Krieger, o único que permaneceu ao
lado dos paulistas.
Com São Paulo
estava apenas o 18º Batalhão de Campo Grande. Com a ditadura, os 16º e 17º de
Cuiabá e, neutros, o 10º de Cavalaria de Bela Vista e o 11º de Ponta Porã.
Em Campo Grande,
depois, recebemos instrução e o Coronel Joaquim Tardié de Aquino Correia,
Comandante do 18º distribuiu os postos e nos deu um comando militar o saudoso
Capitão Geraldo de Oliveira (barbaramente assassinado em 1935 pelos comunistas,
no 3º R.I. do Rio de Janeiro). Com o Tenente Jurandir de Barros, comandante da
Seção de Metralhadoras, tivemos a chefia das forças da ativa com os voluntários
de Mato Grosso, desempenhando o papel eficiente e prático, pois de início
tivemos de sufocar a revolta do Regimento Misto de Artilharia de Campo Grande,
que foi ocupado pelas nossas forças, ficando no seu comando o Major Salaberri.
Com a ida para São
Paulo do General Krieger, assumiu o Comando em Mato Grosso o Coronel Horta
Barbosa, mais tarde presidente do Conselho Nacional do Petróleo, nacionalista
cem por cento, comandante dos bons e amigo acérrimo de São Paulo.
Em princípios de
agosto, as forças de Cuiabá marcharam para tomar Campo Grande e logo que o
Comando teve notícias disso, deslocou duas peças de artilharia e uma companhia
de infantaria para Coxim, comandando as forças o 1º Tenente Dechaus Cavalcanti,
hoje general: dessa expedição fizeram parte nossos soldados e ainda o tenente
voluntário Arthur Pagnossí. Em Coxim, depois de alguns disparos, os ditatoriais
pararam e acamparam, desistindo de avançar sobre Campo Grande.
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Ainda logo no
início de agosto, chegavam a Campo Grande os srs. Paulo Nogueira Filho e
Abelardo Vergueiro César, o comandante Lisias Rodrigues e tenente aviador J.
Ribeiro, mais tarde abatidos em Santos quando bombardeavam um
"destróier" da ditadura.
A finalidade da
viagem a Campo Grande era a compra de dois aviões de bombardeio ou troca por
café, por isso levavam três vagões de café limpo. Organizou-se em Campo Grande
o comboio para conduzir o café e trazer os aviões de Concepción, no Paraguai.
Fomos destacados para comandar essa operação, levando 10 dias para levar o café
e trazer os aviões, trazendo-os para Campo Grande onde foram montados e
entregues aos aviadores Lisias e J. Ribeiro.
Alguns dias mais
tarde, Três Lagoas tornava-se praça de guerra, pois as forças de Goiás
ameaçavam, tendo tomado Santana do Paranaíba. Às pressas, fomos deslocados fora
de Campo Grande, com peças de artilharia e metralhadoras, sob o comando do
Capitão Bahia. No rio Quitéria, após uma batalha, estacionaram as forças
inimigas.
Assim passamos os meses de julho e
agosto.
No dia 2 de
setembro, recebemos ordens em Campo Grande de seguirmos com urgência para São
Paulo. Na mesma noite, o Batalhão embarcou sob o comando civil do Dr. Antônio
Cajado de Lemos e comando militar do Capitão Geraldo de Oliveira e os tenentes
da força regular Jurandir e Barros, além dos voluntários Capitão Lourenço,
Jonas D. de Mello e Ascenso Novarese.
Já em São Paulo,
um médico paulista nos colocou a par da situação. Soubemos então que o 4.°
Batalhão "9 de Julho" de Araçatuba tinha sido aprisionado, felizmente
sem baixas. O Cel. Romão Gomes solicitou ao nosso Comando uma seção de
metralhadoras e uma companhia, o que foi cedido, e as nossas forças foram sob o
Comando do valente e destemido Capitão João Lourenço, que pretendia invadir
Minas Gerais para sustar o avanço sobre Campinas.
Antes, o Dr.
Queiroz Guimarães, (médico paulista, mais tarde Secretário da Saúde do Estado),
chefe do corpo clínico do Batalhão, dizia-nos que a ordem era seguir para São
Carlos. E lá estávamos acampados, aguardando novas ordens, pois as forças da
ditadura ameaçavam Barretos e dia 6 recebemos ordens para seguir urgentemente
para Campinas. Lá nos recebeu na estação o Cel. Oscar Saturnino de Paiva, que
convidou-nos para uma entrevista no sagão da Estação quando ocorreu uma
reunião.
Em Rio Claro,
havia sido preso o Dr. Queiroz Guimarães por ordem do Governo de São Paulo
quando íamos para Campinas, assumindo a chefia o então quartanista de Medicina,
hoje médico em Araçatuba, Ruy de Castro Ferreira.
Seguimos depois
para Pedreira onde acampamos no Morro do Grave. O comando civil e o corpo
médico se instalaram na Fazenda Castelo, sendo que a nossa chegada não foi
muito feliz pois perdemos quatro soldados, um de Lins.
O comando civil
foi cercado e aprisionado em 8 de setembro, inclusive o Sargento Nicolau Fares.
O Dr. Ruy fugiu pelos fundos da fazenda.
Nós, lá no Morro do Grave, seguramos os
soldados da ditadura e lá ficamos até o dia 28 de setembro, quando recebemos
ordens de retirada, pois havia terminado a Revolução.
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O Cel. Herculano
de Carvalho negociara a paz, nós nos retiramos para Jundiaí, mas de uma séria
conferência entre os nossos oficiais, resolveu o Comando seguir para São Paulo,
e depois, ante a negativa do agente da estação em nos fornecer trem, nosso
Comandante telegrafou ao Coronel Herculano que nos autorizou a seguir para São
Paulo. Lá ficamos, no Liceu de Artes e Ofícios, onde a Liga das Senhoras
Católicas nos tratou com carinho e distinção até o dia 12 de outubro de 1932,
quando o nosso Comando recebeu ordens de Campo Grande para entregar armas, na 2ª
Região Militar de São Paulo e regressar, distribuindo os voluntários na Zona Noroeste
e os pertencentes ao 18º deviam regressar ao Batalhão em Campo Grande, pois não
haveria punição de espécie alguma.
Terminava assim
a nossa participação, e de milhares de outros jovens idealistas, na grande
odisséia que honrou São Paulo, tornando-o maior, ainda que derrotado, e
Araçatuba, esta Sentinela Avançada do Progresso Paulista, muito contribuiu para
isso, colaborando com as forças que queriam o retorno do Brasil à ordem
constituída e ao império da Lei.
Com a vitória revolucionária, o prefeito João Arruda Brasil foi
substituído por Rogaciano Nolasco, que tinha como seu assessor e chefe o Dr.
João Marcondes Neto. Para interventor em São Paulo foi nomeado o General
Valdomiro de Lima. Volta a reinar a paz, e o ano de 32 termina.
Parabéns Paulistas Revolucionários que no dia 9 de julho, o dia em que São Paulo pegou em armas para defender a volta da Constituição Federal e o Estado Democrático de Direito. O levante paulista teve como finalidade a defesa dos direitos constitucionais
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